segunda-feira, 14 de maio de 2012

EU TENHO TANTO PRA LHE FALAR, MAS COM PALAVRAS, NÃO SEI DIZER...


       Lembro-me daquelas manhãs de sol quase sempre escaldante. Pouco antes do almoço começava a preparação. Ritual diário, enfadonho e repetitivo. Na minha cabeça, uma rotina interminável. Só depois de muito tempo constatei nostalgicamente que aqueles momentos foram tão eternos quanto à efemeridade da infância que nunca volta.
       Lembro-me do embornalzinho, da camisetinha branca e do sapatinho vermelho. O caminho era sempre o mesmo. O término do almoço o anunciava. Na cozinha, o Moto Rádio de madeira repetidamente cursava as horas que precediam um curto, mas inesquecível trajeto rumo à pré-escola do bairro. Eu o conhecia em profusão, mas nunca o trilhava sozinho. Ao meu lado, a mulher de cada passo. Ela não me levava à escola, me conduzia à vida. Rosto de lineamentos angelicais, traçados harmoniosamente com cabelos curtos aloirados e olhos serenamente atentos. Impossível não sentir segurança diante de tamanha fragilidade. Sua presença anunciava a constante paz interior que só os grandes sobreviventes de combate externam.
       Simples de tão linda, era o resumo de uma obra única e transcendente, jamais descrita ou exposta sequer pelos mais eloquentes e ousados versos poéticos. A humanidade da poesia jamais a descreveria. Não se explica humanamente o mistério divino de uma mulher como ela, que hoje, continua sendo tudo isso, e muito mais.
       As palmadas, os puxões de orelha, as idas ao campo de futebol só para perguntar se eu estava com fome. Eu não era o único. Volta e meia olhava ao lado e via outra mãe fazendo o mesmo, o que garantia a galhardia da molecada de pé no chão, que aos olhos delas sempre foram os filhinhos que, obrigatoriamente, tinham de ceder aos cuidados excessivos de quem desconhece os limites de amar.
Se um dia eu for antes dela, digam que foi, é, e sempre será tudo. E que, nessas mal elaboradas frases tentei um dia, com a ingenuidade daquele menino, expor que ela é genuína e exclusivamente a única cuja palavra, dialeto ou escrita, não conseguirá descrever. Porque o amor não se explica, apenas se vive, e faz da vida, a única prioridade de toda e qualquer existência.
       De todas as experiências marcantes, inesquecíveis e especiais, foi no colo dela que eu vivi o melhor de tudo.

       Em nome da mulher mais importante da minha vida, feliz dia das mães às mulheres mais importantes das nossas vidas.

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