quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A 'DITADURA' DA BELEZA



Não é novidade que vivemos a "Era do Ser". Ansiamos "ser" para vislumbrar o "ter". Nunca se desejou tanto alcançar posição e status social. O prestígio nunca foi tão perseguido e o reconhecimento público tão almejado. 
Na ditadura da estética, as jovens se produzem para expor no álbum do Facebook fotos daquilo que elas gostariam de ser, enquanto balzaquianas procuram fórmulas para que o corpo não obedeça naturalmente à lei da gravidade. Nessa ditadura, é "chic" ter sorriso sustentado por botox, seios avantajados artificialmente e piercing na barriguinha lipoaspirada. 
Quando vivíamos em cavernas o ideal de beleza eram mulheres bem gordas. Nas pinturas dos séculos passados o ideal eram mulheres cheias. Que digam as musas de Pierre Auguste Renoir. Porém, na sociedade contemporânea, aceitar-se como se é tornou-se repudiante e a juventude cronológica passou a ser deificada pelos que a olham pelo retrovisor da vida. Nesse contexto, em que ser esbelto é obrigação, pesa na consciência de milhões de adolescentes e jovens, a frustração de não possuir um corpo perfeito, mesmo que este esteja perfeitamente saudável. É a ditadura da imagem. Exemplo disso, a morte da modelo Pâmela Baris Nascimento, de 27 anos, assistente de palco no programa O Melhor do Brasil. Ela ficou famosa não pelos desfiles e contratos milionários, mas pelo fim trágico de sua vida, conseqüência de cirurgia de lipoaspiração mal sucedida. 
Quem passa pelas gôndolas dos supermercados pode constatar a quantidade de alimentos "light", "diet" e similares. Um adulto com 70 kg precisa de cerca de duas mil calorias diárias. Ao mesmo tempo, somos bombardeados com número zero. Zero caloria! Menos de uma caloria! Menos, Leve, Suave! Abaixo de zero! Compre! Seja Saudável! A obsessão pelo escultural tem se tornado funesta meta para o narcisista ser humano do século XXI, que parece valorar a forma em detrimento do conteúdo. A ditadura da beleza, para não dizer "magreza", não se limita somente aos mercados da televisão e da moda: advogados, secretárias, jornalistas; se gordinhos, estão fora, ou com um ponto a menos nas relações pessoais e/ou profissionais. Talvez isso explique a incidência de academias por toda parte, além de propagandas de medicamentos que prometem evaporar gordura como se fosse água. 
Aceitar-se não significa acomodar-se, mas sim, espantar o sedentarismo para almejar saúde e satisfação com o que se tem, e não ter por meta se tornar Gianechini ou Gisele da noite para o dia. Aliás, você conhece alguém que veste a roupa que as modelos vendem além delas mesmas? A sabedoria popular é santa quando diz que saco vazio não pára em pé. E, que me perdoem as magérrimas, mas como expressa a harmônica canção de Roberto Carlos, "quem foi que disse que tem que ser magra pra ser formosa?"

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

COMO DIZIA O POETA...


Vivemos um fenômeno, um paradoxo interessante: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão distantes. Nunca antes na história da humanidade tivemos tantos canais e formas de comunicação e, paradoxalmente, o número de solteiros não para de crescer. Para o público feminino as estatísticas são ainda mais desesperançadas. Só no Brasil temos 4 milhões de mulheres a mais do que homens. Em Rio Preto são quase 20 mil.
Voltando ao assunto, mesmo que neguemos, na era da individualidade crônica a qual vivemos, estamos constantemente na busca do grande amor. Até quando vamos à feira comprar pastel ou ao supermercado buscar produtos de limpeza. Sonhamos em ser surpreendidos, a qualquer momento, por quem tenha a rara capacidade de nos surpreender. 
O legal de tudo, em meio a essa frenética voluntária ou inconsciente busca, é que, apesar das mágoas e decepções do passado, mantemos adormecidas – mas vivas – no presente, as expectativas em relação à companhia com a qual queremos dividir o futuro. E isso, é o mínimo que podemos esperar e fazer pela vida. Podemos até tentar, mas, como dizia Tom Jobim, “é impossível ser feliz sozinho”.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O FAXINEIRO E O TAPETE



A sociedade atual carece de novos líderes. Há um clima lânguido e opaco em comparação a cenários não muito distantes do nosso tempo, em que lutar e dar à cara a tapa era uma honra, um privilégio; não um ônus, ou trampolim para alcançar riquezas escusas e desmerecedoras. Inegavelmente a culpa por esse estágio preocupante, que leva o jovem a desinteressar-se totalmente por aquilo que rege o seu próprio futuro, é dos próprios homens públicos atuais. 
Nas minhas "andânças" pelas escolas, igrejas e entidades comunitárias, ao falar com crianças e jovens, começo sempre fazendo uma pergunta: "quem aqui deseja se tornar advogado?". Meia dúzia levanta as mãos. Prossigo: "quem sonha em ser médico?". Dez ou onze levantam as mãos. Em seguida pergunto: "quem aqui sonha em ser político?". Silêncio sepulcral. Ninguém quer se dedicar à nobre arte de cuidar do que é dos outros. Ou seja, estamos formando de tudo: médicos, advogados, professores, veterinários, jogadores de futebol etc, menos quem vai gerar emprego e renda a esses futuros profissionais. Ser homem público, de honra, passou a ônus. Eis que, em meio ao desânimo geral e asco com a política, na qual para alguns vale tudo, surgem homens que nos fazem acreditar.
Filho de pedreiro e de dona de casa, teve uma infância pobre em Minas Gerais, e viu nos estudos a chance de mudar essa história.
Foi com a ajuda de parentes que se mudou para Brasília, onde estudou em uma escola pública. Para se manter, trabalhou como faxineiro do Senado. O curso de Direito na Universidade de Brasília foi o início de uma carreira acadêmica intensa. Joaquim Barbosa fala quatro idiomas e é mestre e doutor em direito público pela Universidade de Paris. Mas, no fundo mesmo, continua um mero faxineiro. Um limpador. Um trabalhador de um grande casarão no qual a sujeira brota dos vãos das paredes mal lavadas e do chão podre cheio de tapetes avolumados de poeira recolhida. A diferença entre ele e os outros é a competência com a vassoura e a honestidade com o destino do que varreu. Em vez de empurrar para debaixo do tapete, joga na lixeira. 
Como presidente da corte máxima nacional, que o faxineiro doutor continue o seu trabalho. Se o caráter de um homem faz o seu destino, que os rumos do Brasil continue tendo mais vassouras e menos tapetes. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

GENTE MELINDROSA

     Não foi só a capacidade de sonhar que a dura realidade dos tempos atuais levou do coração de algumas pessoas. Ela transportou pra bem longe também a autoconfiança e discernimento necessários para entender que a crítica solidária pode ser o único e último remédio ante as nossas cegas ignorâncias. Contrapor posicionamentos, ideias, ou ideologias tem se tornado algo muito perigoso ultimamente. Derrubamos, num passado recente, a ditadura política, mas insistimos em manter intacta a ditadura das nossas convicções individuais e, com ela, construímos cada vez mais muros, aonde deveríamos sedimentar pontes. 
  No discurso, defendemos a liberdade de expressão, a propagação do pensamento e a democracia como verdadeiros arautos da liberdade. Porém, quando alguém resolve se manifestar contrariamente, opondo nossa maneira de pensar e agir, imediatamente damos um jeito de reprimir ou até mesmo ridicularizar a opinião do outro. Ao passo dos corações de cristal, fruto de uma geração individualista e que, por ter Google em casa acha que sabe tudo, estamos nos assoberbando ao ponto de não achar que precisamos do conhecimento alheio. 
  Corrigir se tornou algo raro, até porque corremos o risco de ter dois prejuízos: o de falar e o de ser hostilizado por quem não vai nos ouvir. É preciso respeitar o livre arbítrio, mesmo ao ver quem amamos errando, caindo e não levantando. Afinal, como um dia disse Nietzsche, "às vezes as pessoas não querem ouvir a verdade, porque elas não querem que suas ilusões sejam destruídas”. Ou, traduzindo, como diria mamãe, em uma de suas frases clássicas preferidas, "depois não diga que não avisei, hein". Porque toda consequência é fruto de uma escolha.

sábado, 3 de novembro de 2012

DOCES OU TRAVESSURAS?

      Apesar da tão propalada crise, e do risco iminente de perder o domínio da hegemônica supremacia mundial que – ainda – têm sobre o “resto” do planeta, uma coisa é certa: os EUA ainda ditam, mundo a fora, o que devemos aprender, ler e até mesmo comemorar.
    Brasil, país de dimensões continentais, com raízes culturais sedimentadas na criatividade de um povo incansável, que de canto a canto batalha para não ver morrer a essência do que um dia inventou. Somos ainda uma nação que respira arte, com relíquias e riquezas que nenhuma outra possui. Temos o cachimbo do Saci, os pés virados do Curupira, a Mula que não tem cabeça e o tão temido e horripilante Lobisomen. Personagens cada vez mais esquecidos, ofuscados e estranhos à uma cultura geral massacrada pelo imperialismo intelectual de um país gelado, que quer nos ver vestidos com roupas estranhas e fazendo perguntas mais estranhas ainda. Doces ou travessuras? No Brasil temos os dois, e muito mais, porém, na nossa humildade tupiniquim, preferimos “importar do estrangêro”, ainda que não entendamos nada, o que para eles é legal, moderno e tradicional. 
      Matamos nossa cultura e, com isso, ceifamos nossas raízes, nossas lembranças mais genuínas e o mapa das nossas origens. Preferimos comemorar, no ápice do desprezo deles, uma “dark celebration” gringa qualquer, em detrimento do que de mais essencial temos, seja nos recôncavos, periferias, ou centros urbanos do nosso país. Apesar de todos os avanços, insistimos em agir como o primo caipira do interior, aquele que diz pra mãe, que quando crescer, vai ser igual ao primo da capital, aquele que estudou, é inteligente e bem sucedido. Assim somos nós, em comparação a qualquer coisa que venha de fora.
     Deus salve nossa autoestima, porque sem ela, continuaremos a não reconhecer o nosso próprio tamanho e a matar as raízes que nos fazem não depender de absolutamente ninguém, ainda mais quando se trata de cultura, arte e produção criativa. Doces ou travessuras? Nada contra, mas pra um caipira inveterado como eu, só se forem as das festinhas de São Cosme e Damião e as do Saci, que cá pra nós, são bem mais gostosas, familiares e engraçadas.