Não é novidade que vivemos a "Era do Ser". Ansiamos "ser" para vislumbrar o "ter". Nunca se desejou tanto alcançar posição e status social. O prestígio nunca foi tão perseguido e o reconhecimento público tão almejado.
Na ditadura da estética, as jovens se produzem para expor no álbum do Facebook fotos daquilo que elas gostariam de ser, enquanto balzaquianas procuram fórmulas para que o corpo não obedeça naturalmente à lei da gravidade. Nessa ditadura, é "chic" ter sorriso sustentado por botox, seios avantajados artificialmente e piercing na barriguinha lipoaspirada.
Quando vivíamos em cavernas o ideal de beleza eram mulheres bem gordas. Nas pinturas dos séculos passados o ideal eram mulheres cheias. Que digam as musas de Pierre Auguste Renoir. Porém, na sociedade contemporânea, aceitar-se como se é tornou-se repudiante e a juventude cronológica passou a ser deificada pelos que a olham pelo retrovisor da vida. Nesse contexto, em que ser esbelto é obrigação, pesa na consciência de milhões de adolescentes e jovens, a frustração de não possuir um corpo perfeito, mesmo que este esteja perfeitamente saudável. É a ditadura da imagem. Exemplo disso, a morte da modelo Pâmela Baris Nascimento, de 27 anos, assistente de palco no programa O Melhor do Brasil. Ela ficou famosa não pelos desfiles e contratos milionários, mas pelo fim trágico de sua vida, conseqüência de cirurgia de lipoaspiração mal sucedida.
Quem passa pelas gôndolas dos supermercados pode constatar a quantidade de alimentos "light", "diet" e similares. Um adulto com 70 kg precisa de cerca de duas mil calorias diárias. Ao mesmo tempo, somos bombardeados com número zero. Zero caloria! Menos de uma caloria! Menos, Leve, Suave! Abaixo de zero! Compre! Seja Saudável! A obsessão pelo escultural tem se tornado funesta meta para o narcisista ser humano do século XXI, que parece valorar a forma em detrimento do conteúdo. A ditadura da beleza, para não dizer "magreza", não se limita somente aos mercados da televisão e da moda: advogados, secretárias, jornalistas; se gordinhos, estão fora, ou com um ponto a menos nas relações pessoais e/ou profissionais. Talvez isso explique a incidência de academias por toda parte, além de propagandas de medicamentos que prometem evaporar gordura como se fosse água.
Aceitar-se não significa acomodar-se, mas sim, espantar o sedentarismo para almejar saúde e satisfação com o que se tem, e não ter por meta se tornar Gianechini ou Gisele da noite para o dia. Aliás, você conhece alguém que veste a roupa que as modelos vendem além delas mesmas? A sabedoria popular é santa quando diz que saco vazio não pára em pé. E, que me perdoem as magérrimas, mas como expressa a harmônica canção de Roberto Carlos, "quem foi que disse que tem que ser magra pra ser formosa?"

