sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O FAXINEIRO E O TAPETE



A sociedade atual carece de novos líderes. Há um clima lânguido e opaco em comparação a cenários não muito distantes do nosso tempo, em que lutar e dar à cara a tapa era uma honra, um privilégio; não um ônus, ou trampolim para alcançar riquezas escusas e desmerecedoras. Inegavelmente a culpa por esse estágio preocupante, que leva o jovem a desinteressar-se totalmente por aquilo que rege o seu próprio futuro, é dos próprios homens públicos atuais. 
Nas minhas "andânças" pelas escolas, igrejas e entidades comunitárias, ao falar com crianças e jovens, começo sempre fazendo uma pergunta: "quem aqui deseja se tornar advogado?". Meia dúzia levanta as mãos. Prossigo: "quem sonha em ser médico?". Dez ou onze levantam as mãos. Em seguida pergunto: "quem aqui sonha em ser político?". Silêncio sepulcral. Ninguém quer se dedicar à nobre arte de cuidar do que é dos outros. Ou seja, estamos formando de tudo: médicos, advogados, professores, veterinários, jogadores de futebol etc, menos quem vai gerar emprego e renda a esses futuros profissionais. Ser homem público, de honra, passou a ônus. Eis que, em meio ao desânimo geral e asco com a política, na qual para alguns vale tudo, surgem homens que nos fazem acreditar.
Filho de pedreiro e de dona de casa, teve uma infância pobre em Minas Gerais, e viu nos estudos a chance de mudar essa história.
Foi com a ajuda de parentes que se mudou para Brasília, onde estudou em uma escola pública. Para se manter, trabalhou como faxineiro do Senado. O curso de Direito na Universidade de Brasília foi o início de uma carreira acadêmica intensa. Joaquim Barbosa fala quatro idiomas e é mestre e doutor em direito público pela Universidade de Paris. Mas, no fundo mesmo, continua um mero faxineiro. Um limpador. Um trabalhador de um grande casarão no qual a sujeira brota dos vãos das paredes mal lavadas e do chão podre cheio de tapetes avolumados de poeira recolhida. A diferença entre ele e os outros é a competência com a vassoura e a honestidade com o destino do que varreu. Em vez de empurrar para debaixo do tapete, joga na lixeira. 
Como presidente da corte máxima nacional, que o faxineiro doutor continue o seu trabalho. Se o caráter de um homem faz o seu destino, que os rumos do Brasil continue tendo mais vassouras e menos tapetes. 

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