sábado, 10 de março de 2012

GERAÇÃO AMY

      
       Amy é o símbolo de uma juventude que, quanto mais dons e talentos tem, mais se enterra na superficialidadee falta de perspectiva pela vida. No mundo de hoje temos tudo. E não temos nada...
       Hoje de manhã, fui tomar café em uma padaria do meu bairro, o Parque Estoril. Eis que um grupo de amigos se aproxima e começa a conversar com a atendente. Não precisaram proferir mais que meia dúzia de palavras para denunciarem o alto teor alcoólico em que se encontravam. Não bastasse o papo de bêbado, começaram a falar alto e dançar no meio do local, incomodando os clientes que assistiam a cena comicamente deplorável. Não pelo fato dos jovens estarem felizes às sete da matina, mas pelo exposto de seus falsos sorrisos acabarem numa ressaca inexorável. Entre eles, a discussão era sobre o próximo local onde iriam continuar a beber e que horas poderiam buscar “balas” e “doces” para continuarem a ser felizes. Tudo cogitado ali, abertamente, para quem quisesse ouvir. Parece só mais uma cena cotidiana, mas a verdade é que histórias como essa nos evidenciam o rumo que a juventude está se dando. Estamos formando jovens fracos como cristais, que quebram ao primeiro impacto das desilusões da existência. Encontram nos entorpecentes a anestesia geral para esquecerem os problemas da vida, sejam familiares, profissionais ou amorosos.
       Treinamos os nossos filhos para serem os primeiros no vestibular, sem jamais ensinar a eles qua o importante mesmo é garantir um lugar no pódio da vida. As escolas se transformaram em fábricas de formar mentes, mas verdadeiros almoxarifados de corações tristes e vazios. Se antes havia ideais de luta por um futuro melhor, o que sobrou hoje foi o interesse por consumir - e se consumir - no presente, como se não houvesse amanhã. E Renato Russo já disse, “se você parar pra pensar, na verdade não há”. Mentira! O amanhã sempre existirá e é justamente o resultado do que você é hoje. Não temos ideais, não temos sonhos, matamos os valores e nos suicidamos pela falta deles. Falar de Deus, família, felicidade, realização pessoal e afins se tornou vergonhoso. Até porque, já não acreditamos em mais nada disso. Temos vergonha dos nossos pais e com isso fazemos a vida ter vergonha do que estamos fazendo com ela.
        O negócio é ser aceito a qualquer custo, vestir roupas de grife e ter destaque numa sociedade que não cansa de produzir novos destaques tão duradouros quanto à fama e o sucesso de um participante do BBB.
Os ideais coletivos de luta por um país melhor foram trocados pela vontade egoísta de ter posição social. Nos individualizamos ao ponto de esquecer que só os valores e princípios nos mantêm firmes e que, na hora do aperto, as pessoas que mais desprezamos são as que mais estarão do nosso lado. O digam os pais de Amy, que nesta hora são os únicos que choram com sinceridade a perda de uma filha que teve tudo, inclusive amor.
       Os shoppings e casas noturnas estão cada vez mais lotados de gente cada vez mais vazia. Estar na moda e viver de aparências é regra para grande parte da sociedade moderna que já não sabe mais o que fazer com tanta modernidade. Aprendemos a manipular e operar as mais complexas inovações e tecnologias, mas não conseguimos sequer olhar para as nossas mais primárias emoções. Aprendemos na escola - quando aprendemos - a resolver as mais complexas equações de álgebra, física, mecatrônica e química, mas não conseguimos na maioria das vezes compreender e resolver pequenos problemas que angustiam o nosso íntimo.
       Marchamos por qualquer coisa, reclamamos por qualquer fato, nos destruímos por qualquer prazer. Somos adeptos do “viva o momento”, sem pensar que nós fazemos as escolhas e as escolhas nos fazem.
Não nos cabe julgar, jamais, mas Amy, que deixou um legado musical a ser admirado e uma experiência pessoal a ser lamentada, já pode ser considerada o ícone de uma juventude que, sem fé em Deus e em si mesma, caminha depressivamente para uma vala escura chamada morte.

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